February 16, 2008

 
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Resumo da Problemática

Um recente congresso realizado em Nanjing (Julho de 2005) por ocasião do 600º aniversário do navegador da dinastia Ming e almirante Zheng He contribuíu para afinar um debate antigo, mas obviamente transcultural, relacionado com as dimensões máximas «possíveis» dos navios em madeira do passado.

Os anais da dinastia Ming mencionam navios chineses do início do século XV de grandes dimensões (os Bao Chuan -Navios do Tesouro- das expedições de Zheng He no Oceano Índico- 1405-1433) que funcionam como «faíscas heurísticas» para o debate em preparação.

Para além da discussão subjacente à metrologia chinesa antiga e aos aspectos documentais relacionados com o tema, o debate de Nanjing de Julho de 2005 permitiu focar aspectos estruturais dos navios em discussão bem como as diferenças nas antigas soluções construtivas de navios em madeira na Ásia e na Europa.

A abordagem, totalmente interdisciplinar, necessária a uma análise mais aprofundada do assunto tem recebido pouca atenção por parte dos historiadores e arqueólogos, por razões que têm a ver com as especificidades académicas das disciplinas relacionadas com o tema e com uma tradicional timidez quando confrontadas com as «ciências exactas».

No entanto, várias investigações pioneiras, empreendidas por engenheiros e arqueólogos navais têm começado a preencher o fosso tanto na Ásia como na Europa. O presente Workshop propõe, pela primeira vez, reunir os temas dispersos nos diversos circuitos académicos e fundi-los numa plataforma verdadeiramente multicultural e interdisciplinar.

O núcleo temático de um tema essencial por discutir pode ser colocado em termos simples:

Qual é o tamanho máximo de um autêntico navio de madeira do passado (construído sem componentes estruturais ou reforços metálicos)?

A investigação actual sugere que as respostas possam ter variado de maneira significativa consoante o contexto cultural e material na Ásia e no mundo ocidental.

Os conceitos subjacentes a tais questões abrangem a totalidade do universo da antiga construção naval em madeira, independentemente dos tipos e proporções, e põe em destaque as soluções estruturais encontradas pelos construtores do passado em diferentes ambientes culturais para responder aos esforços físicos aos quais eram submetidos os navios em navegação, a começar por conceitos clássicos da engenharia naval como os de «hogging» (navio na crista de uma onda) ou «sagging» (navio na «cova» de duas ondas sucessivas ) investigados e implementados de maneira regular desde o século XIX.

Lado a lado com os dados compilados a partir das ciências sociais por arqueólogos e etnógrafos navais confrontados com o desaparecimento rápido das culturas materiais tanto na Ásia como na Europa, as ferramentas numéricas de hoje (por exemplo, a análise por elementos finitos aplicada ao exame de estruturas complexas) convida a explorar o tema com maior profundidade e a esboçar as grandes linhas – e as limitações- de um modelo, definindo a ordem de grandeza dos parâmetros estruturais no seio de culturas distintas do passado náutico.

Uma atenção especial é dada à aplicação de conceitos relacionados com análise estrutural como os de momento flector (bending moment) ou forças de cisalhamento (shearing stresses) directamente aplicáveis a alguns contextos históricos e inseríveis numa descrição interdisciplinar, bem como numa análise dos componentes estruturais do navio de madeira do passado.

A abordagem interdisciplinar subjacente a este projecto de Workshop não se restringe a académicos e engenheiros navais. A natureza do debate convida a incluir construtores navais contemporâneos com experiência em barcos de madeira com as respectivas abordagens individuais em torno da resistência estrutural dos navios de madeira e as «anomalias» observadas. O debate é extensivo a marinheiros oriundos de horizontes culturais igualmente contrastados (Ásia/Europa) com experiência pessoal em matéria do comportamento estrutural de grandes navios de madeira em plena navegação.

Para além do debate relacionado com as inferências possíveis em torno da dimensão física das empresas marítimas da China da era Ming, diversos casos, tanto na Ásia como na Europa, são considerados, como experiências de terreno para os conceitos estruturais subjacentes à discussão proposta no Workshop:

-a estrutura transversal e longitudinal observada em navios chineses do fim do período medieval escavados no porto de Penglai (província de Shandong, China) e em Shinan (Coreia)

-as análises por elementos finitos levadas a cabo por engenheiros navais (Coreia, Dinamarca) àcerca da análise estrutural de navios medievais.

-os componentes estruturais de navios asiáticos em madeira dos séculos XIX e XX descritos nas fontes da etnografia naval contemporânea (China: províncias de Fujian e Zhejiang. Coreia)

-as «estranhas » escarvas observadas nos segmentos de quilha de um navio renascentista encontrado nos aterros fluviais do Cais do Sodré, em Lisboa

-a «estranha » relação entre a secção da quilha e da sobrequilha observada nos vestígios do Compostellano II, lugre espanhol construído na Galiza no inicio do século XX e naufragado com água aberta, em Peniche, em 1946.

Os conceitos analíticos em discussão no Workshop actualmente em preparação destinam-se a sere debatidos no caso de outras estruturas de navio em madeira investigadas em Portugal (baía de Angra do Heroísmo, Açores , rio Arade, Algarve, Peniche) assim como noutros lugares (Europa e Ásia).

A metrologia tardo-medieval chinesa ou a nomenclatura dos componentes de madeira dos últimos navios à vela da China contemporânea figuram entre os temas que serão apresentados e debatidos em Abril próximo (2008) em Portugal.



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www.asiaeuropeworkshopportugal2008.blogspot.com

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